segunda-feira, 3 de novembro de 2008

Concerto no Recôncavo Baiano - Cachoeira









(Leandro Carvalho) O concerto em Cachoeira aconteceu no Museu de Arte Sacra do Rencôncavo, bem ao lado da Pousada Conjunto do Carmo onde ficamos hospedados. Na verdade, a pousada foi um antigo seminário que foi transformado em hotel. O local não tinha muito conforto mas a atmosfera era bem interessante. Ficamos três dias nesta Pousada. O patrimônio arquitetônico de Cachoeira é impressionante. Muitos casarios estão em processo de recuperação. Andando pela cidade, vemos muito jovens carregando instrumentos musicais nas costas. Eles fazem parte das filarmônicas da região, uma tradição que é mantida há mais de 150 anos. O porto de Cachoeira foi utilizado para escoar a produção de todo o Recôncavo,especialmente açúcar e fumo, muito produzidos até hoje em virtude do clima e solo propícios da região.

O concerto foi especial. Igreja lotadíssima e muita expectativa. A Orquestra se beneficiou da boa acústica do espaço e da energia positiva da noite. Muita gente veio falar conosco e dei muitas entrevistas para as rádios da região. Neste dia, o jornal "A Tarde" (um dos maiores, senão o maior, do Estado da Bahia) publicou uma entrevista com o maestro John Neschling, diretor artístico da Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo. Uma de suas afirmações chamou a atenção e foi colocada em destaque. Ele dizia que, em sua visão, a música clássica jamais chegaria às massas. O interessante foi que todos os jornalistas que me entrevistaram após o concerto em Cachoeira perguntaram-me se eu concordava com esta afirmação. O ponto é que a pergunta feita pelos jornalistas tinha outra conotação. O que eles queriam dizer era o seguinte: eu sou massa, nós (que acabamos de assistir o concerto da OEMT) somos o povo; desta forma, como que a música clássica não é também para nós (se acabamos de assistir um concerto)? Noves fora, ainda que a música clássica não tenha o mesmo público que o axé de Ivete Sangalo, não podemos ter este pensamento como pressuposto direcionador de nossas ações. Não se pode também fazer uma afirmação destas, sob o risco de não ser bem compreendido. Como parte das políticas públicas para a cultura de um estado, qualquer orquestra mantida como recursos públicos deve ter como principal objetivo a democratização do acesso a música de concerto. O risco de isolamento e desconexão com a sociedade é perder a 'razão de ser' para governos e empresas patrocinadoras.

No dia seguinte, dei uma entrevista para o mesmo jornal e, coincidentemente, para a mesma repórter, expressando minhas idéias. A matéria saiu no dia de nosso concerto em Salvador, no Teatro Castro Alves (1-11-08). Nela, afirmava que não concordava com o pressuposto de que a música clássica jamais será das massas. A repercussão foi enorme. Após o concerto, muitas pessoas vieram falar comigo e falar sobre o 'ser ou não ser' da questão. Opiniões a parte, o exercício de reflexão é importante. Nada melhor do que o contraditório, o exercício da dialética com participação coletiva e a liberdade de expressão.

2 comentários:

Anônimo disse...

Parabenizo o Instituto Votorantim e a esta Orquestra pela brilhante apresentação musical na cidade de cachoeira/ba. Foi uma noite memóravel, com um repertório musical refinado e de bom gosto. Gostaria que a mesma retornasse, pois projetos como estes fazem bem à alma do povo brasileiro!

Raimundo Oliveira dos Santos
raioliversan@hotmail.com
Rua Dr. J.J. Seabra 78 A
Cachoeira - BA
telefone: 75-99913807 e 75/34254978

Anônimo disse...

gilberto gil em uma de suas canções disse: "o povo sabe o quer mas o povo tambem quer o que não sabe". o povo do recõncavo foi presenteado com as apresentaçôes da oemt. um maestro apaixonado, músicos sorridentes e talentosos. música da alma. as composiçôes de mestres sul americanos nos levaram pra mais mais perto de nossos vizinhos e os elementos regionais do centro oeste brasileiro nos orgulharam, ambos nos trouxeram um sentido de unidade. noites batutas!voltem por favor!